quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

estava assistindo novela com minha mãe. ela segurando minha mão e conversando. coisas bobas. as gracinhas do meu afilhado, o calote da minha tia, o último desaforo da minha avó. daí ela me contou das bodas de prata de um casal de amigos. e eu perguntei por que eles, meus pais, não tinham comemorado as bodas de prata. e ela me disse que sim, eles comemoraram. compraram alianças novas, foram à igreja, receberam benção do padre. eu já estava achando que tinha batido com a cabeça e perdido parte da memória porque, né, não me lembrava disso. ela disse que sim, eu sabia. sim, ela me disse. e não, eu não quis ir. eu. não. quis. ir. deliberadamente, eu não quis fazer parte deste momento. e não sei dizer nem quanto tempo faz isso. não sei se eles completaram bodas de pérola ou bodas de pinho. porque eu não estava lá. 

minha mãe me dizendo isso com toda a naturalidade, sem um pingo de ressentimento. eu, chocada. então eu fiquei tentando me lembrar de todos os momentos em que eu não estive lá. quando minha mãe operou, eu não estava lá. quando meu pai ficou doente, eu não estava lá. meu irmão entrou em crise e eu não estava lá. meus pais choraram porque não podiam pagar uma faculdade particular pra mim, um curso que, meu deus, eu nunca concluiria. eu não estava lá. eu nunca estive lá. 

perdi muito tempo da minha vida. eu vivi no meu universo particular por alguns bons anos. exclui todo o resto do mundo. eu fugi. e, quando as coisas saem do controle, eu continuo fugindo. mas eu não tinha noção. não consegui perceber que eu também afastei minha família. a mesma família que me acarinhava e me confortava quando eu chegava em casa bêbada, chorando, arrependida. essa mesma família que me acalmava e segurava minha mão quando eu acordava a noite chorando, em desespero. essa mesma família que, sempre que eu preciso, viaja quase 700 km pra me ver. e eu nunca estive lá.

eu tenho tomado parte de muitos pedaços de mim nos últimos tempos. e muito do que eu apreendo não me faz orgulhosa de quem me tornei. tenho que aceitar e conviver com todas essas grandes nódoas. tinha esperança de entender e de preencher esse vazio. e o que eu vejo são só espaços em branco. desvios e caminhos interrompidos. porque eu não estava lá. eu nunca estive.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sobre o 8 de dezembro

Eu deveria ser sua irmã mais velha. Deveria ser seu exemplo, te aconselhar.
Mostrar o caminho menos doloroso.
Mas você não precisou. Você sempre foi forte e trilhou seu próprio caminho.
Você foi embora antes e nos ensinou o que era ser família.
Foi na ausência que aprendemos sobre ser presente.
Foi você quem me ensinou sobre fraternidade.
É você quem me ensina como ser companheira, cúmplice.
É você quem me indica o caminho menos árido e me fala sobre coragem diante das pedras e espinhos.
Você me mostra a todo momento o que é ter fé e acreditar num bem maior.
Você traduz o sentido de amizade e lealdade a todo instante.
Você é meu exemplo. Você é minha segurança.
Não há nada que eu não faria por você.
Não há nada que eu não faria para que você sentisse meu amor.
Eu passaria fome e frio.
Andaria sobre brasas.
Enfrentaria dragões chineses.
Lutaria contra moinhos de vento gigantes.
Eu daria a minha vida por você, sorrindo.
Para você, todo meu amor. Meu mais puro e sólido amor.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

um dia meu pai me disse que ficava feliz por saber que as agruras do mundo não tinham me tornado insensível. que eu não tinha me deixado embrutecer pela vida. mas que eu precisava criar uma casca pra me proteger das pedras dos caminhos áridos que ainda estavam por vir. eu não criei essa casca, pai. queria ter embrutecido. assim eu não estaria despedaçada agora, com o coração mastigado. eu não estaria sangrando. quisera eu ter um coração bruto, pai.

domingo, 4 de dezembro de 2011

olha, sei nem por onde começar. encontrei uma parceira de crime, do tipo que faz pegação com garçom no banheiro. semana passada, fechamos o boteco - literalmente. ela foi embora com um garçom gatinho de camelo, eu fui pra casa na garupa de outro garçom gatinho. ser gatinho deve ser requisito básico pra trabalhar no bar, acho.

(eu tenho um ~que~ com garçom, se vocês não repararam. meu pai sempre diz que, se quiser ser bem servido numa festa, senta perto de mim. até o fim da noite, vou ser convidada pra festa de despedida de um, churrasco do outro. herdei isso da minha avó. reflitam.)

daí que, nesse final de semana, voltamos na baladinha sertaneja. e opa, open bar até as 22h pra mulher. e, claro, a gente tinha que aproveitar e consumir toda a caipirinha de maracujá, cuba e jurupinga em uma hora. tava tudo muito bem, tudo delicinha. garçom Luan Santana paquerando amiga, garçom Humberto Martins quase sentado na nossa mesa. faço o quê? anoto meu endereço pra Humberto Martins mandar a gente pra casa num táxi. porque, né, só podia dar merda. mas óbvio que eu não sossego com uma caneta na mão e dou meu facebook pras piriguetes da mesa do lado, enquanto elas contavam que já tinham pegado os carinhas da dupla sertaneja e davam detalhes da ~performance~. faltando 5 minutos pra acabar open bar, Humberto e Luan trazem mais duas rodadas de birita. juro, tinham uns 8 copos de caipirinha e uns 3 de jurupinga na mesa. 

e, de repente, amiga começa a GOLFAR na mesa, anunciando a tragédia. eu só lembro de mandar ela engolir e arrastar ela pro banheiro. pessoa interditou o banheiro. segurei cabelo, limpei calça suja de vômito, lavei o rosto. amiga sai de um banheiro e se tranca no outro. faço o quê? choro, claro. eu sou uma pessoa muito equilibrada. amiga passando mal e eu chorando. as fias do banheiro tudo tentando me acalmar. garçons desesperados tentando arrumar táxi. olha, eu mobilizei o bar inteiro nesse fiasco. finalmente o táxi chegou e eu saio carregando amiga no ombro. na saída, encontro menininho de 18 anos. e ele me deu um *ju* muito fofo. ai, gente. eu sou facinha. não me chama de ju que eu derreto toda. quando percebeu a situação, menininho se ofereceu pra me ajudar e acompanhou a gente até o carro. muito bonitinho. 

pois é. eu deveria estar levando menininho pra casa. mas tive que cuidar da amiga praticamente desmaiada. paguei o táxi e botei amiga na cama. (alguém me lembra de comprar um colchão inflável, por favor. to velha demais pra dormir no chão.) daí foi minha vez de abraçar o vaso. pessoa descontrolada, chorando, liga pro cara que deu um pé na bunda nela. vejam bem, eu conheço o roteiro. depois do episódio *partida de futebol*, eu apaguei os contatos de Patrick Swayze porque sei o tipo de bêbada que sou. pois eu consegui achar o número no registro das ligações. liguei às 3h da manhã. TRÊS vezes. acho que no fundo não estou pronta pra admitir que a sinastria amorosa do personare estava errada.

e, a maior ironia do universo, amiga acorda linda. vai embora viver a vida e eu fico estragada o dia inteiro. daí vou procurar dinheiro pro delivery e descubro que dei tudo o que eu tinha pro taxista. 30 reais num percurso de 10. prometi nunca mais beber nessa vida.

acordei olhando a programação dos botecos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

seguinte, meninas: parem de suspirar. parem os bicos nas toalhas e os monogramas nos lençóis. acabou romance. e não, não foi culpa minha. e não, não vou contar o episódio *partida de futebol* porque, olha, foi deprimente. não vou reviver. só digo que mocinho vestiu o ~manto sagrado~, mas deixou gentileza em casa. não adianta abrir porta do carro e tratar a menina como lixo depois, garotos. 

ele me abraçou e meu mundo continuou girando.
acabou encanto.
quebrou Dirty Dancing.
fim.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

vamos falar dos meus ~problemas amorosos~.

então eu fui numa baladinha sertaneja. e é aquela coisa, né. primeira vez no bar e eu já conheci todos os garçons, o barman, os seguranças, os amigos dos caras, os amigos dos amigos. de repente, era todo mundo bróder. de repente, mesa cheia de cerveja. de repente, veio tequila. veio vodka. veio caipirinha. de repente, eu estava dividindo cigarrinho com garçom. de repente, eu beijei um menino.

eu beijei um menino de 18 anos.

eu beijei um menino de 18 anos na frente do pai dele.

pois é. no dia seguinte, acordei do avesso e mais arrependida que Madalena. o dia inteiro é uma grande mancha cinza. daí à noite Patrick Swayze me chamou no chat e parece que ficamos de nos encontrar no bar. eu não fui. fui comer uma pizza com a amiga. já estava pronta pra dormir, com meu pijama rosa com coraçõezinhos. mas não aguentei. mandei mensagem pro moço. 'vem dormir comigo'. era uma pergunta e eu fui dormir sem resposta. 

mas ele veio. and i had the time of my life.

ele não disse palavra na despedida. 
ele me olhou e eu mal pude respirar. 
ele me abraçou e o mundo parou. 

e eu me perdi. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

deixa eu contar do meu feriado. eu tentei, juro. passei o final de semana inteiro dando bolo na amiga. no feriado, inclusive. desculpa da chuva. mas, de repente, eu percebi que estava rejeitando convite pra beber (!) e isso tava muito errado. não, não foi como aquela noite. mas tava delícia, tava gostoso. tinha samba, cerveja e gente bonita. em algum momento entre 1 caipirinha de vodka + 2 canudinhos e eu oferecendo colo pro garçom gato abrir seu coraçãozinho e contar seus problemas, chegaram os mocinhos. e eu logo perguntei como era essa coisa de sair em dupla, se tinha esse lance de escolher quem pega quem e tal. queria saber quem perdeu e tinha que ficar comigo. porque, claro, eu tenho sempre que dizer alguma coisa idiota. enfim. depois de uns croquetes e uma conversa edificante sobre signos e sinastria amorosa, eu fui dançar com o mocinho. gente, mocinho dança. de verdade. dança bem, digo. bom, acabei no cantinho da pegação. quatro anos frequentando o bar (mantendo uns longos intervalos de tempo entre um bafão e outro, óbvio) e ainda não tinha conhecido a ~parede~. vai saber quando acontece de novo, né... 

daí, pela primeira vez, eu saí antes de acabar e o povo começar a botar cadeira pra cima. saímos de cazalzinho, eu e mocinho, amiga e amigo do mocinho. mocinho queria levar a gente pro *clube do vinil*, mas não tinha certeza se a gente tava preparada pra isso. amigo, o *clube do vinil* é que não estava preparado pra mim. olha, honestamente, fiquei um pouco decepcionada, sabe. era um lugar obscuro, underground total, mas não tinha senha ultrasecreta na entrada, nem um carimbo exclusivo da confraria que só sai do pulso depois de dois dias e muita água sanitária. era uma casa velha, na verdade. tinha uma sala pequena, que fazia as vezes de salão. e NÃO TINHA VINIL. me senti um pouco ludibriada. não tinha vinil, só um dj com um notebook. imagina ~intervenção~ dos alunos da USP na ocupação da reitoria. a decoração era mais ou menos isso. mais um globo de espelho. e luzinhas coloridas. como era minha primeira vez, ganhei dose de pinga num potinho de papinha de neném. diz que eu joguei acquaplay. diz que eu cantei um gatinho que era amigo dos mocinhos. diz que eu fiz performance. diz que eu fiz dancinha sensual, com dedinho na boca e tal. mocinho me achou ~ousada~. 

olha, tinha essa coisa muito estranha - assustadora, na real - dele ser muito parecido com um primo da minha mãe que é alcoólatra e tem duas mulheres. mas, gente, o moço era um poço de gentileza. teve um momento em que ele não me deixou beber e me deu coca-cola, o que me faria mandar se fuder lindamente, mas eu tinha cafuné e beijo na boca, que é sempre um argumento super válido. e moço dançou Time of my life comigo. mocinho fez coreografia de Dirty Dancing comigo, com pulinho no final (!!1). tem como não amar? diz que foi um sucesso minha estreia no clube-do-vinil-que-não-tinha-vinil. 

daí fomos comer um podrão e tomar sorvete. e eu não fui pra casa sozinha. minha amiga ficou pra fora de casa e veio dormir comigo. rá.

olha, moço me adicionou no facebook às 5 e meia da manhã. não sei lidar com stalker. 

não sei, gente. vamos acompanhar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

eu só queria achar uns artigos. mas encontrei todas as suas mensagens. e, de repente, tudo voltou. como se eu tivesse levado um soco no peito e me faltasse o ar. eu tento não pensar, finjo que esqueci. porque você me deixou ir embora. eu tinha esperança e você me deixou ir embora chorando. e agora tenho essa ferida aberta que não cicatriza. tenho de tomar meu coração partido nas mãos pra ele continuar pulsando, desejando que o tempo possa juntar as partes de novo. esperando que o tempo amenize a dor. porque você me deixou ir embora. e não sei se algum dia terei meu coração inteiro de novo. não sei se vou conseguir abrir meu coração de novo pra outra pessoa. porque você me deixou ir embora, chorando.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

sabe o que pega nesse negócio de fazer exercício físico a cada quinze dias? eu fico quebrada. ando igual pata choca. sinto todos os músculos do meu corpo, até aqueles que eu nem sabia que existiam. mas eu posso lidar com a dor. o problema é que isso já tá me irritando. Malu e a bosta do exame de faixa, digo. e não daquele jeito que o Caio tinha de me provocar e direcionar minha raiva pra luta. daquele jeito que acaba com euzinha mandando tudo à merda. e, olha, nem o dobok novo ajudou. eu achei que seria assim tipo Clark Kent e a cabine de telefone, sabe. achei que era só colocar a roupinha e pronto, nasce uma lutadora. nah. é até bonitinho, mas o negócio ficou enoooorme e é quente pra burro. adivinha quem quase desmaiou já no aquecimento. mas ok. já usei judogui, que era de um tecido grosso e ralava meus joelhos e cotovelos, posso aguentar dobok. não é essa a questão, na verdade. parece que eu sou a única que não sabe a porra dos nomes dos golpes. tá todo mundo fazendo bacat tchagi, eu to fazendo an tchagi. e eu sou a única perdida na merda do poomse. aí Malu me repreende o treino i-n-t-e-i-r-o e, olha, esse não é o jeito certo de me incentivar. é o caminho mais curto pra me fazer desistir. juro, saí quicando do treino. bufando. e o pior é que, se eu não quiser fazer o exame, tenho que justificar pra *equipe* no facebook. cê jura? vou dizer o que?

1- não quero constranger minha professora.
2 - não quero ME constranger.

nem fu-den-do. 

cabo a graça. cabo diversão. chega de hematomas e humilhação em público. semestre que vem vou fazer dança. samba, forró, flamenco, qualquer coisa (aqui vos fala a pessoa que começou a oficina de forró e desistiu. DUAS vezes). a menos que: meu mestre jedi Caio resolva dar aula de novo. prometo nunca mais chorar (e babar) no seu colo, gato.

e a minha vida acadêmica. não faltei nenhum compromisso, juro. fui pra aula hoje, mas honestamente, não faz diferença. por mais que eu consiga compreender o inglês da espanhola (bem melhor do que o alemão falando inglês com sotaque francês, por sinal), eu só consigo captar os 30 primeiros minutos. depois, meu botão do inglês desliga. mas essa é a última aula dela e o assunto não é importante pro meu trabalho. acho. semana que vem, teremos a louca que me fudeu a vida no estágio dois anos atrás e voltaremos a ser três alunas. TRÊS alunas. um sucesso de quorum. e eu achei que, finalmente, ia conseguir terminar a resenha do bendito artigo pra ~discutir~ com a orientadora. mas, opa, é novembro, só tenho um mês pra pensar no trabalho final da disciplina. vejamos. posso escolher entre quatro professoras: a) a espanhola - fora de cogitação; b) minha orientadora - não, né?; c) a louca do estágio - no fucking way; d) a pesquisadora que é a história viva da sintaxe por aqui. chuta.

vai ser lindo. vamos acompanhar. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

daí hoje o despertador tocou e eu, pra variar, resolvi dormir por mais uma hora. porque essa conversa toda de  fazer a Mafalda e arregaçar as mangas e empurrar minha vida pra frente me deixou meio apavorada, sabe. eu tive uma noite de sono ruim, então resolvi dormir mais um pouco. não sei bem, acho que eu sonhei que eu estava atrasada pro treino e fiquei naquela de vou-não-vou. gente, não dá tempo. mas preciso pegar meu dobok. Malu vai brigar comigo. não sei se cheguei a levantar, tirar o pijama e ir pro banho. acordei meio-dia, com um pedreiro fazendo conserto na casa da vizinha e com uma furadeira envolvida no processo. pensei: fudeu. resolvo organizar minha vida e, no primeiro dia, perco compromisso. foi quando eu percebi que opa, hoje é segunda, só tenho treino amanhã. ainda tenho esperança. vou pro laboratório a tarde, encontrar a colega e conversar sobre o projeto. finalmente terminar de ler (e entender) aquele artigo. mas antes, fui checar e-mails. dia da defesa do pupilo da minha orientadora. pronto, fudeu. sem chance de chegar na hora. e, na real, nunca que eu ia pra encontrar todo aquele povo - incluindo minha orientadora. faltei, de novo. 

eu sei, sou um sucesso.

domingo, 6 de novembro de 2011

hoje eu meio que tomei um choque, sabe. fui checar meus e-mails logo de manhã e vi que tinha uma mensagem de um primo no facebook. olha, semana passada eu quis muito deletar meu perfil porque eu cansei. mas parece que grupo no gmail é coisa do passado, a moda agora é curtir página no facebook. e daí que eu to no grupo do taekwondo e preciso saber das notícias. na verdade, to aqui tentando me lembrar porque eu entrei nessa. bom, com certeza não foi pra ser ~atleta~ e, definitivamente, não foi pra lutar. eu sei, não tem coerência. eu não sou coerente. eu sei, já desviei do assunto, mas vou terminar. parece que agora eu faço parte de uma *equipe* e tenho que assumir *responsabilidades* para *colaborar* com meus colegas. Malu quer que eu faça o exame de faixa e eu disse: 'Malu, não to preparada'. daí ela disse: 'magina, ju. você tá preparada sim. até já comprou dobok'. ai, gente. esse não é um argumento válido. eu já comprei uma mochila imensa porque resolvi viajar por 1 mês. claro que eu nunca fui e claro que nunca usei a mochila. e eu poderia fazer um inventário de todas as coisas ~urgentes~ e ~necessárias~ que eu comprei e nunca usei. mas to com preguiça e acho que já deu pra entender. o fato é que: eu não consigo assumir responsabilidade nem comigo mesma, imagina com uma equipe. eu não luto, gente. na última aula, teve confronto todos vs. todos e eu tive que lutar com um menino e, cada vez, que ele soltava um grito eu dava um pulo pra trás, t r e m e n d o inteira. vamos encarar o fato de que: eu não consigo lutar. posso decorar um monte de expressões em coreano e posso fazer demonstrações, mas eu.não.luto. eu tenho crise de riso. eu r-i-o. então eu não consigo ver o objetivo de mudar de faixa, sabe. e, claro, tem o fato de Malu ter gritado na frente de todo mundo, que também me faz questionar minha vontade de continuar. sim, eu sou madura nesse nível. 

mas nem era isso que eu queria falar. hoje de manhã tinha essa mensagem do meu primo. alguém de quem eu jamais, nunca, em tempo algum, esperaria. uma mensagem falando de orgulho em caixa alta. ORGULHO. de amor, admiração, carinho. isso me afetou dum tanto. porque eu não tenho sido uma pessoa de quem se possa ter orgulho. minha única ocupação aqui é estudar. ganho pra isso. e a única coisa que eu tenho feito é procrastinar. protelar. fugir. eu só tenho uma aula na semana. UMA. e essa semana eu faltei. era uma reposição, num dia de taekwondo. disse pra Malu que eu faltaria no treino - de novo - pra ir na aula. eu poderia dar a desculpa de que esqueci. que não ouvi o despertador tocar por DUAS vezes. que eu estava com enxaqueca - minha desculpa favorita. mas enfim, era só eu sendo eu. também faltei numa reunião com uma colega, pra explicar o trabalho sobre o projeto, a pedido da minha orientadora. eu faltei. daí você me pergunta o que eu tenho feito. nos últimos dias, eu fiz uma maratona de gossip girl. do piloto ao último episódio da quinta temporada. porque eu tenho uma certa compulsão. PRECISO terminar de ver tudo. como preciso comer a última bolacha do pacote. não, eu não me orgulho. eu não sai de casa. não faço o mínimo. não troco roupa de cama. não limpo casa. às vezes, não penteio o cabelo, não troco de roupa, não tomo banho. não, não me orgulho disso. mas, finalmente, hoje de manhã eu percebi. não quero mais fingir. não quero mais ter que responder pro meu pai que tá tudo bem, tudo ~indo~, quando ele me pergunta sobre o projeto. porque ele me pergunta toda.a.santa.vez. eu respiro fundo e minto. me segurando pra não chorar. e eu cansei. por causa de alguém que me disse ter orgulho de mim. cansei de não me sentir digna desse sentimento. tá na hora de limpar minha sujeira.

me lembro de um quadrinho da Mafalda arregaçando as mangas, pronta pra empurrar o mundo pra frente. essa sou eu, arregaçando as minhas mangas. 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

e o que você faz? corta o cabelo, compra roupa nova, viaja. você disfarça. você se engana. porque, todos sabemos, não importa onde você esteja, ainda será você, com todas as dores. e voltar será ainda mais difícil porque você vai se lembrar do quão covarde é por fugir. e não há prova maior de que eu estou fugindo do que essa dificuldade em escrever. eu sei bem. estou evitando o confronto. estou congelada. eu pensei que seria bem mais fácil agora, mas eu só vejo aumentar a pilha de artigos e teses que eu devo ler. estou adiando todos os encontros com a orientadora porque eu não tenho nada. não sei por onde começar. e, como ela sabe, deveria ir pro laboratório todos os dias. o que eu não estou fazendo, óbvio. porque, olha, não é só o problema de ter que ~interagir~ com aquelas pessoas. todos aqueles porquês e comos e quandos. o pedante que quer substituir Chomsky. a bitch que quer o meu lugar no lab, minha bolsa, minha orientadora. aquela que me diz que sou egoísta e egocêntrica porque não quero morar numa rep com o pessu da facul (se bem que, exatamente agora, eu poderia considerar essa opção porque não aguento mais festa até 7 da manhã finais de semana e feriados. não aguento viver num lugar com adolescentes histéricas que não me deixam pensar. e gente deselegante que não limpa o filtro da máquina. enfim). a questão é esse sentimento de não pertencer. isso de me sentir tão pequena. de achar que as coisas são sempre tão mais difíceis pra mim. de ter que conviver com gente que, além de bonita, é inteligente e gosta de esfregar os A's e os projetos e os contatos na minha cara. acho mesmo que deve ter algum problema comigo. minha psicóloga tentou me convencer que não, imagina ju, as pessoas que se aproximam de você é que têm problemas. a paranoica, a narcisista insegura, aquela que tem mania de perseguição. mas, vejam, se estas pessoas se aproximam de mim é porque, de alguma forma, se identificam. e eu fico aqui me perguntando por que tenho sempre que me desculpar por aquilo que eu sou. eu disse pra ele que estava cansada de me desculpar, mas que poderia fazer isso mais uma vez. eu me desculpei por ser quem eu sou. de novo. não sou uma pessoa ruim, sabe. então eu fico me perguntando o porquê. o que é esse sentimento que me faz tão amargurada que eu preciso me desculpar por existir. 

talvez seja o que me falta. 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

porque as coisas são assim. eu sinto esse aperto no peito que não sei de onde vem. eu como pra tentar preencher o vazio e durmo pra ignorar a dor. quando a dor é muita, eu choro. choro na minha cama quente. choro na frente de estranhos. choro no ônibus na volta pra casa. até que um dia eu me canso de tanto sofrer e sinto raiva de mim por não tentar. então eu recomeço.

não, eu não desisti. ainda tenho que lidar com uma pesquisa atrasada. tenho que lidar com um coração partido. e orgulho ferido. mas não agora. eu vou ali ver gente que eu amo e que, pra minha sorte, também me ama. e, quando eu voltar, junto os cacos e começo de novo. 

domingo, 23 de outubro de 2011

eu disse aqui que comemorei o 4 de outubro porque, nos últimos anos, não fugi. eu não desisti. e eu tenho me sentido uma fraude desde então. porque eu não estou lutando. eu não sei lutar. metaforica e literalmente. toda vez que tinha confronto nas aulas de defesa pessoal, eu não conseguia lutar. eu ria, fazia piadinha, reclamava. fazia beicinho, ameaçava choro. não conseguia me imaginar lutando. Caio tinha que me provocar, me instigar, me irritar. cutucar alguma coisa parecida com brio escondida em mim. só então eu conseguia me defender. veja bem, defesa. uma reação instintiva. 

não é coragem. eu não sou feita desta matéria. acho que só parei de me debater, daquele jeito desesperado que só me fazia afundar cada vez mais. acho que eu só deixei de empregar toda minha energia em movimentos aleatórios que me levavam a lugar nenhum. é só inércia.

talvez eu já tenha desistido e ainda não tenha me dado conta. 

sábado, 22 de outubro de 2011

eu moro perto da reitoria da universidade. daí que os funcionários entraram em greve e hoje teve uma passeata. acordei da minha soneca da tarde com os gritos de "fernando, cuzão". mas nem. era "fernando, fujão/fugiu da reunião". já que eu tinha acordado, fui assistir mulheres de areia comendo chocolate. como se eu não tivesse nada mais pra fazer, né. na verdade, eu deveria ter ido pro laboratório. porque eu tive uma reunião com a orientadora e chorei. sou um sucesso, eu sei. ela pensa que eu estou usando a técnica de ~neutralização~ do orientador. e eu tive que dizer: não, gata. eu é que estou neutralizada. mas a verdade é que ela me conhece e já me viu numa situação parecida. sabe onde termina. e não quer que eu fique em casa. exatamente como fiz hoje. daí eu canso de pensar em como eu sofro nessa vida e durmo. acordo 8 da noite e, opa, perdi a corrida com a colega. e - o mais importante - perdi o happy hour. faço o que? me encho de pizza e assisto episódio de série ruim. e agora eu estou aqui pensando se ainda tenho um professor de inglês porque na última aula, guess what?, eu sai chorando. porque eu sou desequilibrada, claro. e, sinceramente, eu não sei o que ele estava dizendo porque eu estava brava e, quando eu fico brava, eu fico surda e burra. parei de ouvir no 'i don't care'. daí era como a professora do Charlie Brown falando. e, eu não tenho muita certeza, mas acho que ele disse que eu estava indo embora porque não gostava de estar ali. sério, gato? tenho de dizer que eu estava indo embora porque não queria que ele me visse chorando ~de novo~? preciso dizer que eu não estou muito preocupada com a minha pronúncia? ai, gente. e, vejam vocês, ele me conhece tão bem que não tem certeza se eu vou voltar. a única expectativa que ele tem sobre mim é: eu vou desistir. e eu achei aqui uma carta que eu comecei a escrever pra ele e, jesus, eu não tenho espaço pra ser mais dramática. pior é que eu nem sei se ele está chateado comigo ou se eu deveria estar magoada. eu não consigo ser mais ridícula. vou ali voltar a dormir porque assim eu não posso constranger ninguém. beijo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

daí que, depois de duas semanas, eu fui pro treino hoje. e, pra aquecer, Malu manda a gente correr. olha, agora eu sei como nicole bahls deve ter se sentido depois da macumba da juju. meus amigos, achei que minha bunda tava caindo. juro. eu só não corri com as mãos nas popas porque, né, tava em público. aí, depois do aquecimento, menina Malu pede pra gente fazer rodinha sentadinhos. eu não sei o que rolou nessas últimas duas semanas, mas perdi alguma coisa porque hoje foi dia de DR, bebê. acho que tinha guri reclamando das aulas. daí ela pediu pra cada um dizer quais eram suas expectativas em relação aos treinos. euzinha levantei a mão e disse: "oi, eu sou juliana. não quero lutar. não tenho nenhuma pretensão em trocar de faixa. detesto treino de condicionamento físico porque eu sou ex-fumante sedentária que qualquer corridinha bota os bofes pra fora e põe a mãozinha no peito achando que está tendo um infarto. eu não gosto de poomse porque eu preciso pensar qual é a esquerda e qual é a direita e aí eu já me perdi do grupo. detesto fazer chute com giro porque eu sou desequilibrada e fico tonta. não quero fazer demonstração porque eu não tenho coordenação motora e vou rir e dar vexame. não gosto quando você passa o treino inteiro gritando só o meu nomezinho pra me incentivar; isso é bullen só porque eu sou a mais velha. eu tenho problema de memória, não lembro de cara que eu beijei, quanto mais decorar todos os nomes dos golpes em coreano. estou aqui apenas pra emagrecer e definir as pernocas. e eu não sei se vou continuar ano que vem porque eu sou uma desistente crônica".

mentira, né. comprei roupinha e to aqui decorando apostila pro exame de faixa.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

estava aqui lendo os e-mails trocados com minha psicóloga quando eu estava doente. na segunda vez, porque, na primeira, eu escrevia cartinhas manuscritas, desenhava gráficos do meu estado emocional, fazia colagens coloridas. também fiz uns cartões divertidos pra esconder aquelas imagens horrorosas dos maços de cigarro. esses eu queria ter guardado comigo. sim, eu fumava. muito. e bebia. muito. beirando o alcoolismo. e chorava. descontroladamente. só descobri que minha apatia, aquela falta de vontade de viver, toda aquela dor era doença quando já estava na faculdade (na segunda graduação, porque a primeira foi uma escolha errada. muito errada).

o mais triste é que as pessoas não entendem. acham que é ~preguiça~. que você escolhe ficar prostrada na cama. que você prefere ver a vida cinza a reagir. por muito tempo, eu levava na bolsa um esqueminha feito pelo meu médico, que explicava o porquê eu sou assim. tudo culpa dos meus neurotransmissores. ainda tenho esse papel azul, guardado na gaveta do criado-mudo, entre guardanapos autografados, documentos vencidos, caixa de chiclete, dinheiro rasgado. porque eu já entendi que é uma condição minha. e um dia talvez eu precise explicar, de novo, que não é preguiça.

na segunda vez, eu já estava no mestrado. uma condição nova, mas o mesmo desespero, o mesmo vazio. talvez o que mais tenha me perturbado foi não conseguir ler. não conseguir escrever, a única coisa que eu faço bem nessa vida. isso foi há dois anos, mas é assustador ver que tudo continua aqui. as mesmas queixas, as mesmas dores. assustador.

ela está sempre à espreita. esperando um momento de distração meu. aquele momento em que tudo parece estar bem e eu baixo minhas armas. no fim, estou sempre esperando acontecer. de novo.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

eu menti. não me esqueci. porque eu não esqueço esse tipo de coisa. nunca. eu esqueço nome de quem acabei de conhecer. esqueço rosto de meninos que eu já beijei. esqueço escova de dentes quando viajo. mas não esqueço de compromisso com você. eu preferia ter esquecido. meu arrependimento seria genuíno e minha desculpa, mais convincente. a verdade é que eu estou evitando você. porque você vai me olhar e perguntar sobre a minha vida. você vai ouvir, de novo, que eu odeio essa pergunta. porque eu não posso mentir pra você. eu vou dizer. e você vai se recostar na cadeira pra me ouvir melhor, enquanto eu fecho os olhos pra tentar encontrar as palavras. pra fugir dos seus olhos. vou dizer uma bobagem qualquer e você vai rir, daquele jeito gostoso. e eu estarei perdida.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"Deixo que as pessoas erradas abram meu coração."
estava ali lendo um blog e finalmente entendi. abro meu coração para as pessoas erradas. e não sei como isso aconteceu. porque meu coração estava sempre fechado, cercado, gradeado. e agora isso. eu não sei dosar. a mim mesma, digo. eu não sei qual a dose certa do melhor e do pior de mim eu posso oferecer. a quem posso oferecer. como não sei dosar a menina doce meiga sensível e o caminhoneiro rude bronco grosso. e na dúvida, é sempre o lado machinho que aflora. e eu fico aqui sem saber o que é pele e o que é adorno. vestindo uma fantasia rota esgarçada surrada que já não me cabe, mas que não consigo desprender de mim. esperando os aplausos.

daí a cortina se fecha e as luzes se apagam. e eu estou sozinha. de novo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

sobre o 4 de outubro

foi mais fácil que o ano passado. porque era 30 e tem essa coisa toda com a mulher de 30. eu vejo por aí muita gente considerando como divisor de águas. olha, sinto dizer, mas não muda nada. 31 não mudou muito. eu não amadureci, não tomo minhas decisões sozinha. não pago minha contas sozinha. a mesma sensação de inadequação na vida. peço desculpas porque sempre acho que estou incomodando. agradeço carinho como quem reconhece favor. continuo constrangendo pessoas. continuo afastando pessoas. a mesma inaptidão para relacionamentos. a mesma angústia, o mesmo vazio. mas esse ano eu comemorei. comemorei pelas pequenas conquistas dos últimos anos. não foi tudo como planejei, não está sendo. mas eu não fugi. eu não desisti. viva eu.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

- e aí, ju, como está se sentindo?
- velha.

***

sobre o 1º de outubro: teve muita comida, muita bebida. muita música trash. teve muita luz e muito neon. muita gente linda me amando e me afofando. teve black power, vestido de bolinha, nega maluca. teve eu de peruca e batom pink que muito me favoreceram. teve eu dançando lambada loucamente e fazendo performance de xuxa. teve eu pagando bundinha porque meu tutu enrolou na meia-calça arrastão. teve muita foto ~ousada~ e vídeo constrangedor que serão usados contra mim no futuro. não teve bafão, desculpa. prometo me esforçar mais da próxima vez.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

vamos lá. meninas estavam tentando me levar para o bar já tinha algum tempo. ontem me convenceram. eu respondi: ai. tá, eu vou. ai, porque, né, eu me conheço e previ as altas confusões com uma turminha da pesada. começo foi tudo bom. amiga chega com amigo gatinho. tudo muito bom. ri como se não houvesse amanhã. bebi como se não houvesse amanhã. as meninas me iludiram. disseram que era uma banda de pop rock. não era. era uma banda alternativa, tocando um ritmo aleatório. mas até aí morreu  neves. de bom humor, danço maracatu, baião, catira.

olha. eu nem me lembro exatamente de tudo. mas eu parecia estar num grande facebook, dando like e distribuindo coraçãozinho com as mãos. eu escutava gente gritando ju de todo lado. flertei como se não houvesse amanhã. não, mentira. flertar é pra gente fina elegante e sincera. eu estava fazendo dancinha sensual com dedinho na boca. grupinho aleatório: "faz o ombrinho, ju. o ombrinho, ju". não queiram saber.

ouvi de um menino aleatório: "você é inteligente e divertida. homem tem medo de mulher assim". só fiz carinha de cê jura? minha resposta imaginária: "moço, eu preferia ser bonita e burra e ter um namorado". mentira, só queria ser bonita e gostosa.

ouvi de uma menina: "você precisa ser recatada". R E C A T A D A. só fiz carinha de aff. eu queria mesmo era ter dito: "recato my ass. pega aqui no meu recato e balança, fia". mas não disse porque sou fina. mentira, nem sou.

ouvi de outro menino avulso: "boca-suja. minha mãe não gostaria de saber que eu estou conversando com você". ai, gente. respondi "vai si fudê", óbvio. 

tinha esse cara no bar que eu já beijei. dois meses atrás. ficamos juntos uma vez. uminha vez. e nessa vez o moço disse que meu cabelo era fantástico, que gostava da minha pele branquinha. ficou paquerando meu casaco de couro. porque ele estava acostumado a ver gente usando ~napa~. queria saber quantas línguas eu falo. porque a língua nativa dele é francês e ele fala inglês. provavelmente deve falar mandarim ou alemão, sei lá. eu respondi: "falo caipirês". preguiça de gente pedante. então ele disse que poderia gostar muito de mim. ênfase no muito. disse que teria um filho comigo (!). "imagina que linda a combinação das nossas cores". daí queria ir pra minha casa. eu disse não. queria que eu fosse pra casa dele. não, obrigada. aí disse que eu deveria ter algum ~problema~. ai, gato. desculpa, mas fez tudo errado. fugi, claro. ontem precisei olhar umas três vezes pra ter certeza. disse oi, dei beijinho porque eu sou simpática. mentira, dei beijo porque ele pegava minha cerveja.

daí gatinho me diz: "não te entendo". acho que ele estava se referindo ao meu comportamento bipolar, mas, sei lá, pode ter sido uma piada mal contada. apenas joguei o cabelo e virei as costas porque, né, só faltava escrever na minha testa pega eu. eu disse pra ele que não sabia lidar com homem que me faz rir. porque geralmente eu sou a ~divertida~ da história. acho que talvez ele não saiba lidar com menina que diz o que pensa, fala palavrão, entende as referências das piadas e responde no mesmo nível: euzinha. amiga disse que nós dois estávamos competindo. olha, gatinho perdeu por WO.

encontrei meu professor de defesa pessoal e o irmão dele com os amigos. não, primeiro encontrei o irmão e o amigo. não lembro como. eu disse qualquer coisa louca, provavelmente. e falei que lutava. curto muito dizer que luto, sendo que comecei há um mês. afofei o cabelo de um, apertei as bochechas de outro. me adiciona no facebook, gato. fumei cigarro com os meninos e bebi alguma coisa que eu não sei o que era. "cê tá muito loca, ju". gente que me chama de ju me ganha. sou facinha.

pedi desculpas. desculpa, pisei no seu pé. desculpa, esqueci seu nome. desculpa, mas vá à merda. desculpa, babei na sua calça. desculpa, esse post vai ficar enorme.

já no fim da noite, vi um homem enorme, dois metros. gato. cara de mal. ri sozinha, moço me olhou com cara de -q? eu disse: "nada não, moço. continua fazendo cara de mal e sendo lindo". moço riu, parou, me paquerou. meninas queriam ir embora. fui pra fila pagar conta. paguei um mico, mas não conto. daí to caixa e o carinha da banda faz beicinho e pede pra comprar cd. acho que eles se aproveitam das mocinhas levemente alteradas e desequilibradas. comprei cd de maracatu com o dinheiro do taxi. esqueci no carro, espero sinceramente não reaver.

então o grandão no fim da fila começa a me gritar. juuu, cadê você. juu, anda logo. virei pra trás e lindamente mandei se fuder. meu jeitinho. professor de defesa na fila, peço carona. choro. fim.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

seu melhor amigo diz "não vai dar certo". sua psicóloga diz "está fazendo errado". você sabe. no fim, você sempre sabe que vai ficar sozinha e vai sofrer. mas como faz pra avisar o coração? como parar de suar frio, tremer as pernas, gaguejar, sentir todas essas borboletas no estômago só de ficar perto dele? como diz pro coração: "moço, para de sentir"? alguém, por favor, me ensina. porque, olha, num guento mais não.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

então hoje eu fui pro treino de defesa pessoal e, estranhamente, não ganhei nenhum hematoma novo. mas recebi notícia nova. notícia ruim, na verdade. Caio disse que não pode mais dar aula neste semestre. porque tem aula demais, trabalha demais, ocupado demais. e eu fiquei triste demais. porque não se trata só de saber manejar uma faca ou um bastão. não é só aprender quais pontos atingir com um soco ou um chute. é sobre mim. sobre como descobrir essa força interior, como encontrar meu equilíbrio. como me defender de mim mesma. qualquer coisa que eu diga aqui seria insuficiente pra descrever o bem que esse curso me faz. o quão confiante e segura me faz sentir.

foi um dos melhores dias de taissô. eu fechei os olhos e elevei meu coração. estava tão absorta em mim, em limpar a mente, que não ouvi o barulho da obra lá fora. e, quando ele disse as palavrinhas na hora de acabar, foi como sair de um transe. era o melhor momento da semana. quando eu não pensava em nada. quando eu me sentia em paz. ele sugeriu que eu continuasse os treinos com outro professor, outra turma. mas aí eu teria que passar por tudo de novo. não, obrigada. estou um pouco cansada de recomeçar sempre. 

saí da aula e, no caminho pro terminal, parei num sebo. quatro anos morando aqui e eu nunca tinha entrado nesse sebo. porque eu julgo livro pela capa. gosto de livro novo, do cheiro. gosto de assinar, datar, carimbar. sentir a capa, folhear. de começar minha história com o livro. mas eu estava triste e achava que merecia um livro. e tinha esse, azul, que por acaso estava na minha lista. tem uma dedicatória da Lia pra mãe dela, de março de 2003:

pra você, mãe, pessoa mais plena que eu conheço!

eu comecei a ler no 337, voltando pra casa. a dona mãe da Lia marcou as passagens preferidas com uma caneta marca texto. isso me deixaria profundamente irritada. mas hoje não. apertei o livro contra o peito, como seu abraçasse Lia e a pessoa que ela ama muito. e eu me senti menos sozinha. 

li o livro pelos olhos da mãe da Lia. e pretendo dar pra minha mãe, que é a pessoa mais plena que eu conheço.

sábado, 24 de setembro de 2011

pessoa chama de querida, mas diz "se você fosse num salão especializado e reduzisse o VOLUME, seu cabelo ia ficar bom". eu queria dizer "fia, você vai ver o volume da minha mão na sua cara", mas só virei o pescocinho que nem Regina Duarte, ergui a sobrancelha e engoli um ~cê jura~. pessoa diz "você precisa ser mais otimista, ver o lado bom das coisas". sorri e levantei os ombrinhos, com as palminhas das mãos pra cima. mas queria dizer "lado bom foi não ter vindo ao mundo com a sua cara, bitch". pessoa diz "você precisa fazer exercício". você suspira e mostra a mão com um hematoma gigante, que um dia foi roxo e hoje tá verde e você acha que sua mão vai cair a qualquer instante, porque você foi pro taekwondo com muita ~vontade~ de lutar. mas pensa "eu ainda posso praticar uns chutes nessa sua cara, bitch". olha. eu acho muito engraçado isso. todo mundo sempre tem aquele conselho esperto. todo mundo sempre tem uma receita pra melhorar sua vida.

não posso nem reclamar mais. "to ficando velha" "imagina, ju, você ainda é muito nova". "to preocupada" "imagina, ju, você ainda tem muito tempo". não durmo direito, não consigo me concentrar, não consigo ler os textos. tudo é sempre "maagiiina, ju".

ai, gente. posso ficar preocupada? me deixa ficar deprimida em paz? hein?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

eu disse aqui que não faria de novo. adivinha quem fiz perfil no feicebuque, de novo?
botei fotinha bonita, convidei família, amigos. postei no mural. mandei uma enxurrada de mensagens. já usei coraçãozinho. jurei não stalkear ex-namorado. 
vamos acompanhar quanto tempo vai durar. façam suas apostas.

spoiler: vou falar besteira. vou ficar triste e apagar mensagens. vou dizer mais do que deveria. vou ficar triste e deletar perfil. fim.

adivinha quem tenho conta no twitter? 
decidi que ia ficar anônima. falar no meu cantinho escuro. daí ganhei meu primeiro seguidor, fiquei feliz. não tenho amigos com quem conversar, fiquei triste. mudei @, achei amigo, fiquei feliz. falei besteira, fiquei triste, apaguei post. 

spoiler: vou ficar feliz > vou falar besteira > vou ficar triste > vou deletar conta > fim.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

você se desespera e acha que nunca na vida vai conseguir escrever. então marca reunião com a orientadora para dizer olha, estou perdida. sei nem por onde começar. e ela tem que dizer como fazer seu trabalho. está muito ~aéreo~, muito solto, diz ela. acho que eu disse, entre dentes, eu estou aérea. estou aqui preocupada em  comprar discos de vinil e bexiga neon. e nem sei mais por quê, já que nem gosto de comemorar aniversário. agora que eu estava me acostumando com os 30. estou aqui apaixonadinha pelo cara errado. de novo. uma história tão absurda que posso ver a cara dele de - que? posso ouvir a risada dele. eu sei, estou perdida. mas ouvir ela desenhando, traço por traço, passo-a-passo tudo o que devo fazer e marcando reunião para ~discutir o texto~. como prova oral. gente, quanta incompetência. e ela fala comigo como se fala com criança. como se dá notícia triste pra doente. como se fala com criança doente. cheia de dedos. porque ela sabe que eu sou desequilibrada. ela sabe que eu surto e choro. o mais puro constrangimento. vinte minutos. eu saio e tropeço na minha autoestima. e tenho que desviar da outra orientadora, porque não consegui fazer o que deveria ter feito. porque eu estou perdida, pra variar. quinze minutos remoendo, arrastando o que deveria ser minha vergonha na cara. até chegar em casa e ver que, ai, mandei mesmo aquele e-mail. gente, quanta estupidez. fico impressionada com tamanha maturidade. e você só queria dizer: gato, não tem regras. só me abraça quando eu estiver chorando. 

sábado, 17 de setembro de 2011

e tem aqueles dias tortos. aqueles dias em que tudo está fora de lugar. você queria preto, mas só tem amarelo. você pede ânimo, só tem frustração. você prefere rancor, só tem mágoa. até seu café tem gosto de mágoa. você veste a carapuça, mas precisa fazer a bainha porque entregaram o número errado. tudo veio errado. sua vida veio errada. e você não pode encaixotar todo esse desgosto e devolver para o remetente. não tem devolução de expectativas frustradas. não existe reembolso de chances perdidas. não tem SAC para insatisfação. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

eu finjo. continuo sorrindo e fazendo piada. mas estou suspirando profunda e dolorosamente, tentando ignorar esse aperto no peito. suspiro pausada e dolorosamente, tentando segurar as lágrimas. e acompanho os ponteiros do relógio, esperando as horas passarem, enquanto balanço a cabeça num sim e faço hum-hum, como se estivesse entendendo a diferença entre sentenças téticas e categóricas. eu vigio os ponteiros do relógio, enquanto, discretamente, coloco a mão no peito e massageio o V da morte, na tentativa de aliviar o aperto aqui dentro. eu conto os minutos pra poder chegar em casa e chorar na minha cama quente. e amanhã vai ser a mesma coisa. tudo sempre igual. e você não vai perceber porque eu finjo. finjo tão bem que eu quase chego a acreditar. até sentir o aperto. e os suspiros. de novo. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

eu ia até o consultório dela toda semana. sentava no sofá branco, do lado da caixa de lenços, e olhava a parede azul. e ela me fazia perguntas. e eu ficava irritada porque, imagina, ela não tinha esse direito. digo, de vasculhar e invadir minha alma daquele jeito. ela me fazia perguntas e eu chorava. porque tamanha dor não se  deixa pronunciar. mas ela não desistiu de mim. e, aos poucos, eu baixei a guarda. me desarmei. e, aos poucos, fui encontrando todas as respostas. um dia, queria falar sobre uma coisa que eu sentia, mas não entendia. então escrevi. e ela me disse: você está apaixonada. eu estava apaixonadinha pelo instrutor da academia e não sabia. não conseguia entender. foi a primeira das cartas. a primeira de uma centena de cartas amareladas, com uma letra trêmula, dobrada em três partes exatamente iguais. e eu nunca mais parei de escrever. um sem-fim de cartas que me rasgam, me despedaçam. aprendi que era mais fácil escrever. e percebi que todos esses estranhos sentimentos só se tornam reais quando escritos. ainda não entendo uma porção deles. e tem aquele que eu ainda não consigo nomear. mas esse eu já conheço. sei quando chega sorrateiramente e se instala num cantinho escuro, atrás de todo rancor e toda mágoa guardados com tanto cuidado. mas esse não dá pra esconder. porqueesse é o que me faz abandonar todas as fantasias rotas, que já não me cabem, mas que insistem em permanecer. esse é aquele que faz os dias mais coloridos. que me faz leve. hoje eu escrevi pra ela o que eu não sabia dizer anos atrás. hoje eu escrevi, soterrado em pensamentos tortos e ideias dispersas, discretamente, no fim da página: estou apaixonada. agora eu sei que é real. porque hoje, no momento em que eu deveria limpar a mente e o coração antes da luta, eu fechei os olhos e vi você.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

a professora do taekwondo pediu um atestado médico. pra ter certeza de que ninguém vai ter um ataque do coração e morrer no meio do treino. o prazo é semana que vem. eu tive de dizer pra menina Malu que eu preciso fazer um exame no fim do mês.
ela: mas não pediram exame pra ninguém, por que pra você?
eu: porque não tenho mais 18 anos, né.
tia Ju tem 30, menina Malu. mas eu queria dizer mesmo era: olha, tenho 30, mas não se engane. não espere de mim maturidade e equilíbrio emocional. não diga: isso tá feio, porque eu faço beicinho. não grita comigo porque eu choro. tenho 30, mas minha idade mental é 13. tenho 30, mas escrevo meu nome do ladinho do sobrenome dele, dentro de um coração.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ele me perguntou sobre filmes. eu disse que preferia livros. e, no meu inglês ruim, fui listando livros em duas colunas imaginárias: gostei/não gostei. ele compra mais livro do que é capaz de ler, assim como eu. ele disse que tem caixas de livros guardadas porque sempre sonhou em ter uma biblioteca em casa, com estantes gigantes. como eu. ele faz listas de livro que gostaria de ler, eu faço listas de livros que gostaria de comprar. ele compra livros em sebos, eu gosto do cheirinho de livro novo. descobri que Cem anos de solidão, meu livro preferido, é um dos livros favoritos dele. e parti seu coração quando disse que achava Hemingway chato. quer dizer, o que eu li é chato. não gosto dessa coisa de um homem, um barco e um oceano inteiro. descobri que não sei nada de literatura brasileira, além de Machado de Assis, sua Capitu e seu autor defunto. alguns versinhos de Quintana e Drummond. e agora eu tenho uma longa lista de livros escritos por autores brasileiros contemporâneos. mas ele queria saber sobre os filmes. porque parece que ele quer se educar sobre o cinema nacional. sei tanto sobre cinema nacional quanto sei de literatura: quase nada. falei sobre o último filme que eu vi. uma versão tupiniquim de Catch me if you can. mas o longa não é tão bom quanto o documentário, que é fantástico. agora eu tenho uma lista de filmes. na verdade, a lista é antiga. hoje eu assisti um desses. e é meu favorito da vez. me lembrou muito de um filme de Peter Greenaway, The cook, the thief, his wife and her lover. a mesma relação entre comida, poder e sexo. e algumas cenas similares. esse tem uma fotografia belíssima, aquele tem humor. é isso: o filme brasileiro é leve, bem-humorado. acho que ele gostaria desse também. ele gostou de Cidade de Deus e queria ver Tropa de elite. o problema é que não tem legenda. e, amigo, não dá pra traduzir a linguagem desses filmes. toda a identidade de um povo na linguagem. e eu fico aqui me perguntando como alguém consegue viver num lugar sem saber a língua. claro, eu pre-ci-so aprender inglês. ele não precisa falar português. mas não se pode conhecer de verdade o lugar em que se mora e, especialmente, não se pode conhecer o povo e a sua cultura se não souber sua língua. eu só consigo pensar que ele não quer pertencer a este lugar. ele não pertence a este lugar. e eu confesso que é bem triste admitir isso. a mesma sensação de coração partido dele com a minha aversão à Hemingway.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

fazemos taissô antes do treino. uma ginástica rítmica japonesa, acompanhada de música. movimentos suaves e harmônicos, como uma forma de aquecer o corpo e limpar a mente. fazemos isso desde o início, há seis meses. mas hoje eu finalmente entendi. não é só uma ginástica. é um meio de entrar em contato com o seu interior. limpar as impurezas da superfície. sentir a placidez da superfície. descobrir sua força nas profundezas e trazer à tona. inundar o coração e a alma com essa força. e, renovada, buscar o equilíbrio. permitir o bom e afastar o ruim. equilíbrio de mente, alma e coração.

in-crí-vel o tanto que me senti renovada.

maravilhoso.

e, se acaso permanecer alguma impureza, a gente libera no kempo. na porrada, claro.

domingo, 4 de setembro de 2011

aí roupa nova me fala: deixa o amor entrar. que amor, gente? que amor? olha, eu aceitaria de bom grado esse amor que todo mundo canta. porque parece tão sublime e tão pleno que às vezes eu tenho pena de mim por nunca ter sentido isso. alguém até já tentou me oferecer esse amor. e eu não tinha resposta. quer dizer, eu tinha. eu tenho, mas não tenho coragem de dizer. porque eu teria de dizer: não, obrigada. porque eu teria de dizer: eu não mereço esse amor. não mereço seus versos e suspiros, sua prosa, sua entrega. porque eu teria de dizer: sinto muito, fui leviana. eu só estava de passagem. mas você se distraiu com os meus olhos de ressaca e pensou que poderia. eu teria de dizer: quero mais. e eu procuro não pensar muito sobre isso porque eu teria de dizer: eu não posso. eu não sou capaz. eu não sei amar. e isso seria triste demais pra quem espera.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

estava aqui ouvindo roupa nova (eu sei, eu sei). e tem essa música, falando sobre todas elas. e eles dizem que "pelos 30 anos elas sabem onde pisar/suas cabeças já estão no lugar/dão um jeito de fazer acontecer/e têm esperança". eu só queria saber se mulher de 30 é assim mesmo. porque ou eles estão muito errados ou eu não me encaixo nesse mundo. quer dizer, a parte da esperança confere, mas eu não sei nada sobre essa coisa aí da pessoa madura, centrada. já estou quase virando o placar, mas não faz muito tempo eu bem estava em crise com essa mulher de 30 aí. então resolvi ler Balzac porque, de repente, descobri que sou uma balzaquiana. não foi uma ideia muito boa essa. primeiro porque eu não sou uma mulher do século 19. depois porque eu estou muito longe de ser essa mulher que ele descreve. não tenho esses "atrativos irresistíveis" para o amor, essa mulher que "satisfaz tudo". eu só queria que vocês parassem de cantar a mulher de 30, sabe. porque, olha, eu não estou sabendo lidar com isso. sério, parem. me deixem ser só a Ju.  

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

hoje eu vi um anúncio delicioso. vovó Salomé faz "trabalhos e amarrações no amor" e pede "favor não confundir com certas aventureiras por aí vovó Salomé faz o que as outras só prometem (sic)". olha, vovó Salomé não é fácil, hein. os nomes de certas aventureiras devem estar costurados na boca do sapo hora dessas. 

daí eu estava no terminal esperando o 337. eu devia estar numa cara de desespero sem tamanho porque um tiozinho se aproximou, me perguntando: você está bem? precisa de ajuda? posso fazer alguma coisa por você? 
gente. pensei alto: nossa, devo estar com uma cara muito feia. não, obrigada, estou bem. sentei e esperei. dois minutos depois, tiozinho se aproxima de novo: com licença, vai me desculpar, se você me permite, sobre o comentário sobre o seu rosto, posso dizer, IRMÃ, que o seu é um dos róstos mais bonitos que eu já vi. 

gente. olha.

eu to muito boa, viu. doente mental e crente, na mesma semana.

noves fora, setembro começou muito bem, obrigada. que venha a minha temporada das flores.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

daí eu peguei o 337 pra ir pra aula de inglês. eu sentei e logo um cara saiu do lugar dele no fundo, pediu licença e sentou do meu lado. apertei minha bolsa no colo, por reflexo. porque, né, achei estranho. dez minutos depois, ele:
- você também é da U.?
(o cara tava me paquerando, quem diria. e eu quase disse pra ele: moço, cê tá fazendo isso errado. mas então eu percebi que ele tinha um problema. um problema mental, digo. não quis ser rude.)
- sim.
- eu também.
- uh, legal.
silêncio. dez minutos depois:
- qual é o seu nome?
(suspiro profundo)
- Juliana.
dez minutos depois, o ônibus chegou no terminal. ele levantou:
- tchau, Juliana. você vai tá sempre aqui, né?
(suspiro)
- sim, estou sempre aqui.

não menti, né. estou sempre a caminho. sentada na janela, vendo a vida passar.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

papai me disse

um dia saí do trabalho chorando por causa da grosseria de alguém e corri pro meu pai. ele me disse que ficava feliz em saber que eu não tinha perdido a sensibilidade, que não tinha me deixado embrutecer pela vida. mas que eu precisava criar uma casca pra me proteger dos dissabores da vida.

bom, acho que não criei essa casca. mas talvez tenha me deixado adormecer dessa sensibilidade que, se me faz capaz de perceber sutilezas e nuances do mundo, também me faz frágil.

e quantos momentos especiais não terei perdido?

domingo, 28 de agosto de 2011

gramática

Para V.

você me faz lembrar o que eu estava fazendo em 1997
e me faz perguntas que não saberei responder nem em 2017.
você me abraça e me faz lembrar de que matéria sou feita,
de que todos os erros são perdoáveis,
de que não preciso ser perfeita.

seus discos, meus livros,
nossos desejos sublimados
meus caminhos tortos, suas trilhas e portos,
nossas histórias entrelaçadas
cruzadas fundidas emaranhadas.

você me abraça e tudo parece fazer sentido.
me esqueço de como são tristes os dias de chuva
e como são longas as noites de domingo
e que Abril já está no final e Maio não demora a chegar
frio e cinza e cansado.

minhas árvores infindáveis, suas pequenas árvores,
nossa linguagem particular.
minhas linhas retas na sinuosidade do seu plano,
toda minha inexatidão contida nos seus traços precisos.
toda minha intensidade acolhida na sua serenidade.

meus pés distraídos encontram os seus
e meus passos são leves porque você é meu guia.
minhas mãos curiosas percorrem as suas
que, impacientes, desenham nos grãos de açúcar
le visage du bonher.

eu, que sou tão inconstante, permaneço
nas suas lentes
nos seus papéis amarelos
na sua vitrola antiga
permaneço, viro tarde e adormeço.

seu coração, ávido, bate mais rápido que o meu, indeciso
te dou uma parte do meu e levo comigo um pedaço do seu
então pulsaremos no mesmo compasso
pulsando
pulsando
dançando
meu pedaço em você, palavras perdidas
sua parte de mim, cores vivas
nosso todo, um mundo inteiro.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

estava aqui lendo manual de aquisição de linguagem. e vejam só vocês. gatos que só enxergam listras verticais são cegos para listras horizontais e vice-versa. e patinho se ligam emocionalmente à primeira coisa que eles vêem se movendo: a mãe pata, um humano, um objeto. (não sei como isso pode ser importante pra mim. mas enfim.)

eu saí da biologia, mas a biologia não sai de mim.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

aquele momento gostoso de chorar na frente de estranhos. porque você dá uma bobeada, baixa a guarda e volta a pensar. em como perdeu anos da sua vida. em como está fazendo tudo do jeito mais errado possível. em como foi estúpida. daí a pessoa solta um tudo bem? e você acha que finalmente pode respirar e abrir seu coraçãozinho. e chora.

a arte de constranger pessoas: sou mestre.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ponto alto do meu dia: aula de defesa pessoal com facas. o que me assustou foi perceber que eu estava cobiçando a coleção do professor. o lado bom é que, se nada der certo, tenho um futuro promissor como atirador de facas. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

de repente, eu me senti velha. como naquele filme antigo que a menina de 13 anos deseja ser uma mulher de 30. e, num passe de mágica, um dia ela acorda e, opa, 30 anos. bem bonitinho o filme. é como me senti. a diferença é que eu realmente tenho 30 anos. e não posso voltar aos 13. e nem é como se eu quisesse reparar os erros, como desprezar o grande amor da minha vida. porque a sensação é de que eu não vivi todos esses anos. eu olho pra trás e vejo grandes espaços em branco na minha linha do tempo. parece que eu estive inerte por um longo tempo. perdi bons anos da minha vida. e eu não consigo fazer planos a longo prazo. não porque eu não tenho planos. deus, eu tenho tantos! mas porque eu corro o risco de ficar esperando e ver a vida passar. como já aconteceu. então eu preciso pensar agora. agora, eu tenho muito trabalho, mas estou contente porque minha orientadora confia em mim. e, se eu não consigo visualizar meu projeto como um todo, coerente e preciso, ela vê. e eu confio nela. agora, eu consegui uma orientadora para meu trabalho de qualificação de área. e eu fiz de novo. bati na porta dela, com uma ideia na cabeça e disposição para aprender. perguntei se ela poderia e ela disse: adoraria! assim, com ponto de exclamação. penso que ela sabe que eu sei. agora, eu gosto de lutar. e cada músculo do meu corpo me diz que isso me faz muito bem. agora, eu não sei falar inglês. e acho que isso vai ser bem mais difícil do que eu imaginava. agora, eu não entendo o que estou sentindo. e, exatamente agora, estou triste demais pra tentar entender. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

estava aqui pensando nesse meu gosto por lutas. não me lembro quando isso começou. eu fui criada como uma princesinha. fui uma criança linda, com longos cabelos loiros, olhos verdes, pele de porcelana. minha mãe me vestia como uma princesinha, com vestidos de babados, laços e fitas. e eu fazia coisas de princesinha. dançava balé, tocava piano. e desfilava. então eu cresci. jogava vôlei e brincava de basquete. um dia, quis jogar futebol. falei com a professora de educação física, chamei as amigas e formei um time. eu não era muito boa, mas era dona da bola. era meu time. depois experimentei judô. não durei muito tempo, mas eu adorava. e eu fazia alguns golpes com tanta perfeição que os meninos paravam pra me ver lutar. acho que eu só queria fazer coisas de menino. provar que eu poderia fazer tão bem (ou melhor) quanto qualquer menino. eu era uma feminista e não sabia. na faculdade, eu estava ocupada demais tentando me encontrar. acho que só puxei ferro nesse período. então, depois de terminar o mestrado, comecei o curso de defesa pessoal. finalmente me encontrei. me fez sentir forte e confiante. aprendi a lidar com a dor e a frustração. e agora descobri o taekwondo. lutar limpa a mente e cansa o corpo. e, com o corpo cansado e a mente limpa, consigo dormir bem, tranquila. é doloroso, mas eu sei o que dói. posso ver os hematomas, sei que é o meu joelho que está machucado. sei exatamente porquê estou sentindo dor. e isso é o melhor da luta. porque não há nada pior que acordar no meio da noite, com um aperto no peito, sem conseguir respirar. e não saber porquê.