quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

daí que o ano começou. o ano acadêmico, digo, porque to pagando conta desde 1º de janeiro. só pra deixar claro. e acontece que eu estava bêbada quando fiz minha matrícula em duas disciplinas. eu já cumpri todos os créditos, mas tive a brilhante ideia de me inscrever em mais dois cursos. acontece que, neste semestre, preciso fazer o trabalho de qualificação de área e dar conta de todos os textos que eu fingi ter lido ano passado, além de classificar, quantificar e analisar trocentos dados. porque eu também estava bêbada quando preenchi o relatório da pós-graduação. e eu tenho de fazer isso neste semestre que só. tem. quatro. meses. daí eu estava pensando em (adivinha? adivinha??) desistir de uma disciplina. acontece que uma delas é ministrada pela orientadora do meu trabalho fora de área e acho que vai ser importante porque sei tanto do assunto quanto sei de física quântica. a outra, é a disciplina da minha orientadora de tese. como faz? cadê minha cara de pau de dizer pra ela que veja bem, eu não dou conta, cê sabe que eu sou desorganizada e cê sabe que eu já fiz essa disciplina, posso? e, bem, teoricamente eu já fiz a disciplina, em 2009, quando eu surtei e voltei pra casa com um atestado do psiquiatra. então parece que eu vou ser obrigada a aturar mr. quero-ser-chomsky e a mrs. sintaxe-na-veia. e parece que vou ter de ler mesmo os textos porque o curso é um seminário e vai ter debate. enfim. a pior parte acho que já passou. não, mentira. a parte mais constrangedora passou: primeira aula e aquela coisa de se apresentar pra turma. gente. GENTE. me peça pra dar uma aula sobre algoritmos, me manda dar palestra motivacional, mas não me peça pra falar de mim. não dá, gente. é nesse momento em que me sinto um lixo e questiono a competência da comissão que me aprovou na seleção. eu me lembro do meu primeiro dia de aula no mestrado. todo mundo se apresentando, falando sobre sua experiência, expectativas sobre o curso etc etc. e eu, em desespero. olhava pra porta, contando os passos, e tentava decidir se era melhor correr ou simular um desmaio. até que um colega disse que era de outra área, com outra formação e tinha escolhido o curso porque era *introdução*. acho que a turma toda pode perceber meu suspiro. todo meu amor por aquele carinha. aí eu já não me sentia tão estranha no ninho e até falei que sou formada em biologia. não gosto muito de falar sobre isso. basicamente, quando alguém me chama de bióloga, morre um boto na amazônia. enfim. eu sou de uma cidade pequena, saí de uma universidade medíocre. e, bem, quando você não tem parâmetro, acaba tendo uma percepção distorcida das coisas. to tentando dizer que minha turma - chamada de *intelectuais mal-vestidos* - era do tipo que nunca tinha lido dostoievski, preferia fazer ~teatrinho~ a ler uma obra completa de shakespeare e não sabia o que era ~objeto fálico~. e, bom, eu passei a adolescência com a cara nos livros. não que isso seja lá grande coisa porque ler era só um jeito de não pensar. daí...bom, eu fiquei aqui pensando em uma metáfora pra explicar isso, mas a coisa é: no meio de um bando de gente medíocre, eu me achava fodona. risos eternos. eu não sei dizer quando me dei conta. de que eu sou tão medíocre quanto meus antigos coleguinhas. e agora eu não me importo, sabe. porque eu sei que nunca vou ser quem eu achei que seria. e daí eu fico me perguntando pra que. por que tanto esforço, tanto sacrifício, pra terminar em uma universidade obscura, fazendo um trabalho medíocre. eu me pergunto: qual o objetivo? e letras, gente. letras. eu ficava incomodada com as piadinhas, mas gente, eu aprendo pra ensinar gente que vai aprender pra ensinar gente. eu não vou descobrir a cura do câncer ou salvar alguma espécie de extinção. qual o objetivo? daí tudo o que você quer é ir pro boteco beber e comer coxinha, mas opa, a pessoa não tem habilidade social e não tem nenhum amigo. bombei em relações interpessoais.

primeira semana de aula, amiguinhos. acompanhem o meu desespero.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

e eu cansei. de acreditar. de fingir. de ter que recomeçar. sempre. e de novo. porque é sempre como se eu voltasse ao ponto zero. como se eu não tivesse aprendido nada, como se não tivesse vivido. sem marcas. porque até as marcas eu apago. ou tento. mas, quando eu deito a cabeça no travesseiro, eles voltam. todos aqueles momentos, toda aquela dor que eu sufoquei. e eu tento abrir os olhos depressa, na tentativa de afastar aquelas imagens, mas é tarde. já está ali. como um pesadelo que se repete. eu tento correr, mas não consigo me mover. tento gritar, mas não tenho voz. até que eu acordo com meu próprio grito. mas eu ainda vejo. ainda está ali. e eu permaneço paralisada, agora de olhos abertos.

estou cansada de tanto tentar. de implorar. de dissimular. de beber pra esquecer. e de sempre voltar pro mesmo lugar.

estou amarga. me deixa.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

eu só queria dizer que: meu sobrinho de 3 anos foi pra escola. meu sobrinho ~torto~, filho do meio da minha prima-irmã, teve seu primeiro dia de aula hoje. meu sobrinho, aquele que eu esperei e amei desde a barriga da mãe, em quem eu dei banho e troquei fraldas, pra quem eu trazia um brinquedo e um livro toda vez que voltava pra casa, voltou radiante da escolinha. meu sobrinho, que chegou da escola numa felicidade só, arrastando uma maleta da metade do seu tamanho, contou que tem 9 colegas e um deles chorou 'porque é um bebezinho'. meu sobrinho, meu mini-leitor e contador de estórias, se apaixonou pela escola. e eu sou toda amor.