quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"meiga", eles disseram. me descreveram como "meiga", todos eles. eu, que sempre me achei grossa, mesmo cruel, às vezes. eu não entendo. são pessoas completamente diferentes, quem eu acho que sou, quem as pessoas acham que eu sou, quem eu descrevo aqui. não bate, não fecha. isso sempre me perturbou, mas sempre vinha uma crise maior e passava. eu seguia. mas aí o "meiga". eu não sem mais quem é de verdade. a menina meiga, que cora de vergonha ouvindo conversa suja. a vadia bêbada que rasteja por migalha de afeto. a velha amarga carcomida por rancor. eu não sei mais em quem acreditar. não sei mais quem é real.

sábado, 17 de janeiro de 2015

sofri uma tentativa de assalto. estava em são paulo, a trabalho. tinha acabado de sair do hotel, domingo 7h da manhã, pra ir pra faculdade. o cara chegou por trás, eu não percebi. o cara falou baixinho: 'moça, eu só quero seu telefone'. achei que era cantada. 

pausa pra vocês rirem. 

apertei o passo e disse que tava trabalhando. cara falou grosso que 'também tava trabalhando, tá achando que isso é brincadeira'. mostrou alguma coisa prateada debaixo da blusa. só então eu percebi. dei uma parada brusca, um passo pra trás. e eu vi o outro cara. o primeiro maluco gritando pra passar a grana. eu corri pro meio da rua, gritando por socorro. entrei na frente de um carro. maluco correu atrás de mim. 'agora vou te matar'. e me jogou gasolina. consegui chegar do outro lado da rua e pedi ajuda pra um senhor. olhei pra trás e o maluco tava parado no meio da rua, me olhava feito um bicho. parei um táxi que vinha vindo e aí eu desabei.

as pessoas me falavam daquela rua, de como era perigosa etc. assim, não ajuda muito. é como dizer que eu estava pedindo pra ser assaltada por estar ali. alguém me disse que, se não tinha levado nada, então tá tudo bem. porra, gente. não tá tudo bem. me levaram meu sossego, minha tranquilidade de andar na rua sozinha. não tá tudo bem.

acho que eu apaguei alguns pedaços, as coisas foram voltando aos poucos. levei um tempo pra lembrar de tudo. to contando agora pra tentar enterrar tudo de uma vez.